terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Nossa historia, nós é que podemos contar"

Malkia Zaritê - foto Nina Medeiros
FESTIVAIS - muito me agradam!
 






      A lembrança mais antiga de participação em um festival remonta à década de 70, “Festival de Cultura Latino Americana”, na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aquela atmosfera, aquele povo todo, a multiplicidade de culturas, sotaques, tipos físicos... nossa, foi tudo tão mágico, que definitivamente enamorei-me por festivais.
       Festival/Encontro de Arte Negra, então, me encanta, e sempre que posso, compareço. Quis a Vida que eu comparecesse em “A Cena Tá Preta - Ano IV”, Festival de Arte Negra baiano, alguns dias após minha mudança para Salvador. Cheguei a “cidade de todos os santos” na antevéspera da efervescência do “novembro negro”, ainda com um pequeno pesar de que nosso espetáculo, “Hamlet Sincrético”, não tenha sido selecionado para participar.
      O que senti aqui é que o novembro chegou “bombando”. Evento disputando com evento, exigindo daqueles e daquelas que se dispunham a acompanhar a agenda negra um excelente preparo físico e mental, tanto para os deslocamentos, quanto para o tempo despendido a cada atividade, já que ocorrem nos três turnos, da manhã à noite. Com relação a isso, imagino que há o que se pensar referente à concentração de “negritude” em novembro.
      E foi assim que cheguei sábado à noite – vinda de outros eventos – ao Teatro Vila Velha, para assistir “Malkia Zaritê”. No entanto, minha primeira noite na cena negra foi branca. Não gostei do que vi. Talvez por já ser avó, e não ter mais paciência para assistir espetáculos que me deprimam e/ou me constranjam. Para mim, do espetáculo de Santa Catarina restou o desagradável incomodo de ver nossa história negra sendo contada pelo “olhar branco”, descomprometido com a cena que, negramente, estamos construindo há séculos. Contudo, e por tudo, me agrada muito participar de festivais. Neles, a unanimidade não habita, são múltiplos, são palcos de muitos encontros. Neste, fui apresentada, oficialmente, por Allan da Rosa às “Capulanas”, também me recomendou o livro editado por elas “{EM}GOMA – Dos pés à cabeça, os quintais que sou”. Recomendação aceita, e entrega imediata à leitura, a sensível história de vida de cada uma das ainda meninas – negrasmulheres – me toca e revela a história de construção/reconstrução contínua do povo negro submetido à diáspora forçada.

      A história – delas/nossa – me comove profundamente, me provoca, me impulsiona, me situa.
Como disse Mauricio Tizumba, ao final do BELO “Galanga, Chico Rei!”: “nossa história, nós é que podemos contar”. Sim, Capulanas, nossa história, a partir do âmago, nós é que podemos contar. E aos festivais cumpre a função de mostrar, também, não só aquilo de que gostamos e/ou queremos ver/ouvir/contar. Por isso, para mim, “A Cena Tá Preta – Ano IV” cumpre ao que se propõe. E aos que fazem “A Cena Tá Preta” acontecer, nos possibilitando encontros, desencontros, reflexões: VIDA LONGA!!! Até “para o ano”, pois, festivais, muito me agradam e os de Arte Negra, então, me encantam. ( Vera Lopes - atriz --- Salvador, novembro de 2012)

(foto de Nina Medeiros do espetáculo Malkia Zarite)   



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