Malkia Zaritê - foto Nina Medeiros |
FESTIVAIS - muito me agradam!
A lembrança mais
antiga de participação em um festival remonta à década de 70, “Festival de
Cultura Latino Americana”, na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Aquela atmosfera, aquele povo todo, a multiplicidade de culturas,
sotaques, tipos físicos... nossa, foi tudo tão mágico, que definitivamente
enamorei-me por festivais.
Festival/Encontro
de Arte Negra, então, me encanta, e sempre que posso, compareço. Quis a Vida
que eu comparecesse em “A Cena Tá Preta - Ano IV”, Festival de Arte Negra
baiano, alguns dias após minha mudança para Salvador. Cheguei a “cidade de
todos os santos” na antevéspera da efervescência do “novembro negro”, ainda com
um pequeno pesar de que nosso espetáculo, “Hamlet Sincrético”, não tenha sido
selecionado para participar.
O que senti aqui
é que o novembro chegou “bombando”. Evento disputando com evento, exigindo
daqueles e daquelas que se dispunham a acompanhar a agenda negra um excelente
preparo físico e mental, tanto para os deslocamentos, quanto para o tempo
despendido a cada atividade, já que ocorrem nos três turnos, da manhã à noite.
Com relação a isso, imagino que há o que se pensar referente à concentração de
“negritude” em novembro.
E foi assim que
cheguei sábado à noite – vinda de outros eventos – ao Teatro Vila
Velha, para assistir “Malkia Zaritê”. No entanto, minha primeira noite na
cena negra foi branca. Não gostei do que vi. Talvez por já ser avó, e não ter
mais paciência para assistir espetáculos que me deprimam e/ou me constranjam.
Para mim, do espetáculo de Santa Catarina restou o desagradável incomodo de ver
nossa história negra sendo contada pelo “olhar branco”, descomprometido com a
cena que, negramente, estamos construindo há séculos.
Contudo, e por
tudo, me agrada muito participar de festivais. Neles, a unanimidade não habita,
são múltiplos, são palcos de muitos encontros. Neste, fui apresentada,
oficialmente, por Allan da Rosa às “Capulanas”, também me recomendou o livro
editado por elas “{EM}GOMA – Dos pés à cabeça, os quintais que sou”.
Recomendação aceita, e entrega imediata à leitura, a sensível história de vida
de cada uma das ainda meninas – negrasmulheres – me toca e revela a história de
construção/reconstrução contínua do povo negro submetido à diáspora forçada.
A história – delas/nossa – me comove profundamente, me provoca, me impulsiona, me situa.
Como disse
Mauricio Tizumba, ao final do BELO “Galanga, Chico Rei!”: “nossa história, nós
é que podemos contar”. Sim, Capulanas, nossa história, a partir do âmago, nós é
que podemos contar. E aos festivais cumpre a função de mostrar, também, não só
aquilo de que gostamos e/ou queremos ver/ouvir/contar.
Por isso, para
mim, “A Cena Tá Preta – Ano IV” cumpre ao que se propõe. E aos que fazem “A
Cena Tá Preta” acontecer, nos possibilitando encontros, desencontros,
reflexões: VIDA LONGA!!!
Até “para o ano”,
pois, festivais, muito me agradam e os de Arte Negra, então, me encantam.
( Vera Lopes - atriz --- Salvador, novembro de 2012)
A história – delas/nossa – me comove profundamente, me provoca, me impulsiona, me situa.
(foto de Nina Medeiros do espetáculo Malkia Zarite)
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