Enviado por Irene Santos, fotógrafa
Estava eu, sossegada em minha casa, trabalhando
um pouquinho, quando bateu na porta o cineasta
cult. Não tinha mais ouvido falar dele desde o século 20 , quando
inventivo, abria caminhos para quem estava querendo se iniciar no cinema. Falha
minha, provavelmente. Desbravador iluminado, era “o cara” que sabia tudo sobre
o SUPER 8, o 16mm, depois o 35mm. Quem viveu os 1970 e 1980 sabe do que estou
falando...
Pois não é
que “o cara” vai na minha casa, entra e, trocando o meu nome por Eunice ou
Sueli,nem lembro mais, diz que quer usar imagens do meu trabaho NEGRO EM PRETO E
BRANCO para um curta que está realizando. Trabalho
sobre negros, “afro descendentes de escravos”, trabalho necessário no momento
atual, segundo ele. Lembrei na hora da minha amiga Maria Conceição que
afirma sempre não saber até hoje onde fica a Escravolândia ( Slaveland??)
“Tudo bem, cineasta cult,
desde que o senhor nos mostre o copião do filme, quem sabe até a gente autorize
o uso das imagens, porque são imagens dos nossos corações , o senhor sabe...são
preciosidades, pelo menos para nós...”
Então tá, lá
se foi o cineasta cult, dizendo sim,
sim,sim.
Voltou meses
depois à minha casa, com o copião que produzira. Colocou no DVD, se ajeitou
faceiro na cadeira para assistir sua obra prima.
Ai, ai, ai... alguém lembra o samba do crioulo doido? É mais ou menos o mesmo só que invertido. Parei de contar na décima imagem de negro torturado, amarrado, acorrentado, sangrando, no garrote, tomando tiro, brigando na rua,fugindo da polícia.
Ai, ai, ai... alguém lembra o samba do crioulo doido? É mais ou menos o mesmo só que invertido. Parei de contar na décima imagem de negro torturado, amarrado, acorrentado, sangrando, no garrote, tomando tiro, brigando na rua,fugindo da polícia.
E olhe que o
tema do filme do cineasta cult é a Liga da Canela Preta, organização que
congregava, nos anos 1930, os jogadores negros de futebol que os times da auto
intitulada elite porto-alegrense discriminavam.
Ah, o texto da narração é caótico, mistura alhos e bugalhos, reforça preconceitos, repete intermináveis clichês, erra na história da Liga.
Ah, o texto da narração é caótico, mistura alhos e bugalhos, reforça preconceitos, repete intermináveis clichês, erra na história da Liga.
Será que a nossa história se resume a isso?
Como diz
Mestre Giba Giba, JÁ NOS VIRAM!
E agora, lá
vem pedrada...
Irene Parabéns, maravilhosa idéia e trabalho.
ResponderExcluirSem dúvida, esta ferramenta será um importante elo de ligação das pessoas e entidades com a Cultura Negra.
Evandoir - Nenê
Bom saber!! Abs, Álvaro
ResponderExcluirOs seguidores e seguidoras de equívocos sobre a nossa história são em números considerados. A apropriação é constante. Ou, melhor, é uma apropriação que como diz o texto, somente para reforçar preconceitos. Estas atitudes vêm demonstrando o despreparo e o desrespeito por uma população que representa mais da metade da população brasileira. As iniciativas em visibilizar nossa história são louváveis. Mas não é mais admissível insistir nos equívocos. A desconstrução dos equívocos preconceituosos já vem sendo por nós contada há muito tempo. É bom lembrar para os desenformados que existem no meio acadêmico e fora dele pessoas negras pesquisadoras e pesquisadores da nossa história com qualificação reconhecida em nível nacional e internacional.
ResponderExcluirAssessore se!
Maria Noelci Homero - Noho
Irene, o blog está lindo e os textos são muito bons. Parabéns! Quanto ao teu texto sobre o cineasta cult (adorei isto!) a história se repete e se perpetua. E os 'cinestas cults' espalhados por aí ainda chamam a nós, atores negros, para ajudá-los a construir de novo e sempre este 'samba do criolo doido'. É muito chato,cansativo e irritante ser chamada pra fazer testes pra filmes e outros pra interpretar sempre os mesmos papéis...
ResponderExcluirÉ bem assim, Glau. "A nossa história nós é que temos de contar."
ExcluirNossa Irene!! cada vez fica mais claro que nós é quem devemos construir as nossas coisas, pois eles agora querem se aproveitar até das nossas trajetórias, eles vem de mansinho, pedindo material na maioria de nossa propriedade intelectual, sem nos ressarcir justamente, e ainda nos usando e utilizando nossos saberes. Até onde vai isso...
ResponderExcluirAs pessoas só farão com a gente o que deixarmos que façam. Cabe a nós zelar pelo nosso patrimonio cultural e imaterial.
ResponderExcluirIrene, estou chocada, me passaram um convite sobre o tal filme, e hoje foi passado na Casa de Cultura Mario Quintana. Ao chegar a Sala, pouquíssimas pessoas e na maioria não negras, estranhei pois se fala da Liga imaginei que tivessem pelo menos o pessoal que participa dos torneios que acontecessem quase que anualmente, se nao me engano, as únicas negras era eu sozinha e uma moça que estava acompanhando um rapaz não negro. O diretor na abertura fala da importancia de mostrar os "problemas do negro" e diz que este faz parte de uma trilogia que irá "oportunizar aos afrodescendentes se verem" e ainda "passar conhecimento para os afros". Foi horrível! sentiria-me muito culpada se tivesse levado meu filho. Não fiquei revoltada, fiquei irritada com ignorância dos criadores do filme e principalmente pela falta de referências positivas, que hoje são tantas, tem muitas coisas incoerentes que não valem a pena discutir, enfim, ao final daquele filme que mais parecia um filme de terror, daqueles que te deixam com medo, o tal diretor esperava os convidados para cumprimentar, mas estranhamente quando chegou minha vez ele se virou e nem me olhou, pensei, vou esperar mais alguns minutos e perguntar a algumas pessoas sobre o que acharam do filme, e o que ouço é o seguinte : muito bom, o "T" está de parabéns. Sem contar a quantidade de frases que elogiavam o tal diretor,em meio ao Coquetel regado a vinhos e espumantes. Que Ridículo e SEM Noção essa gente!!
ResponderExcluirSai nessa chuva para ir no lançamento do filme hoje, fiquei sabendo pela Guaíba, como sou fanático por futebol fui, ao pesquisar sobre ele achei a crítica aqui e o artigo de onde saiu a narrativa do filme: http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/172659_6546-20478-2-PB.pdf
ResponderExcluirAchei o filme radicalmente antiracista, senti uma tensão nas pessoas que assistiam, quando falava-se de branqueamento e segregação (palavras violentas que batem na face dos brancos brasileiros). O pior do filme para mim foi a visão romântica e idealista do racismo exposta pelo Senador Paim, como se o racismo fosse acabar com sentimentos bons e bom coração.
Fernando Almeida