sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O OLHAR PREDATÓRIO

1897 - Nobre Etíope - Fred Holland Day
Fred Holland Day (1864-1933), editor norte-americano , foi o primeiro a pensar a fotografia como arte. Filho de família rica, tinha tempo e dinheiro para isso. Envolveu-se com  temas polêmicos na vida e na arte. Em suas experimentações com temas religiosos usou a si mesmo como modelo (!) para a figura de Jesus Cristo e se fez fotografar preso a uma cruz.  
Por outro lado, notório admirador das formas masculinas, costumava levar para seu estúdio, homens jovens para inspirar a lente de sua máquina fotográfica.
O jovem amigo que ele chamou de Rei Etíope transpira sensualidade no olhar velado, na mão preguiçosa que afasta o manto desnudando o torso sarado. Ah! meu Rei!!! 
 É verdade que todos os biógrafos de Fred Holland Day, insistem em afirmar que a sua fruição ficava estrita ao terreno artístico (!).

"Aldeia de negros" em um zoológico europeu.Autor desconhecido

Na mesma época, final do século 19 e início do século 20, negros importados da África para a Europa e para os Estados Unidos eram  exibidos da mesma forma que outros exóticos animais não humanos como chimpanzés, girafas, elefantes.Ota Benga foi um exemplo . Capturado no Congo em 1905, ficou em exposição na Europa e depois foi doado a um zoológico de Nova Iorque, onde ficava em exposição na jaula dos chimpanzés .


Ota Benga .Autor desconhecido


A fotografia era  ferramenta importante do "racismo cientifico" que procurava promover a desumanização dos indivíduos de pele preta
No Brasil a moda chegou nos anos 1850. As fotos impressas em forma de  cartão-postal viraram coqueluche, tornando-se a forma mais eficiente de divulgar fatos cotidianos, acontecimentos marcantes, profissões, paisagens.  



Negros e negras, fotografados por  razões pseudo-científicas, eram forçados a aparecer despidos, em poses humilhantes e que tentavam mostrar  características físicas semelhantes às de animais não humanos.

Tipos negros. Á esquerda, foto de A.Stahl, à direita foto de A Henschel













Paradoxalmente, a nudez gratuita terminava por revelar formas perfeitas, invejáveis num universo onde a maioria da classe dominante branca só conseguia ostentar barrigão flácido e queixo múltiplo à lá D.João VI .

Em fotografia, o olhar dos modelos  costuma refletir perfeitamente a forma como são olhados por quem está por detrás da lente.

Os negros escravizados ou libertos 
 tornavam evidente a humilhação e o desconforto a que eram submetidos. O olhar predatório do fotógrafo ignorava sua privacidade, subtraia sua intimidade, e iniciava a construção de uma identidade negativa que até hoje sobrevive no imaginário coletivo dos brasileiros, nos estereótipos, nos preconceitos, no "racismo cordial" onipresente.


Da esquerda para a direita: 1900- autor desconhecido/ 2011-Marta Azevedo/ 2011- Marta Azevedo/ 1900-Virgilio Calegari
A longevidade desta forma rapinante de "olhar os pretos"  é  demonstrada  em  recentes publicações. Um exemplo é o ensaio da fotógrafa carioca Marta Azevedo (1), publicado em 2012 com patrocínio da Secretaria da Cultura do RJ.
A pele preta é difícil de fotografar, complicada de equilibrar luz e sombra; é preciso conhecimento para conseguir um bom resultado. Marta Azevedo prova que tem esse conhecimento e o seu  ensaio Black Faces apresenta uma técnica contemporânea de indiscutível qualidade.



2011 - Algumas Black Faces de Marta Azevedo

No entanto, dá para perceber que o conceito embutido nas poses dos modelos é o mesmo que guiava  os fotógrafos do século 19  dedicados a registrar os exóticos pretos: são  pessoas fazendo caretas, esgares, emoções forçadas, caras, bocas ...
Em entrevista à  revista Raça Brasil a fotógrafa explica seu trabalho:
-" ... as pessoas posavam para mim, que já tinha uma concepção dessas fotos. Usei elementos da cultura e da religiosidade africana, como o candomblé, a umbanda, as miçangas, a palha e a argila. 
-"... Gostei de ter feito todas elas . O que eu poderia dizer, nesse sentido, é que gosto muito de trabalhar com argila. Então, as fotografias que tiveram esse elemento foram especiais. A argila deixa as expressões faciais mais fortes, mais expressivas. Usei argila também no corpo de alguns fotografados, mas na maioria usei no rosto..." 
-"... Os negros americanos são muito mais agressivos dos que os brasileiros. Eles têm mais atitudes. Os negros brasileiros são mais humildes dos que os negros americanos, que se impõem mais..."


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7 comentários:

  1. voce nao me conhece, nao sabe como é meu método de trabalho. Escreve o que lhe vem na cabeça. Muito mal para os seus leitores e para o jornalismo. Procure se informar.

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  2. quem assina este blog?????!!!!!

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    1. Não sou anônima como voce.
      visite meu site:www.irenesantos.fot.br

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  3. Santa ignorancia,o trabalho da fotografa Marta esta lindo,vcs ainda estao presos a escravidao,onde veem o modelo rindo vejo um grito para a liberdade e nada de palminhas,isso sim sao amarras da almas!!!!!!!

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    1. A crítica do blog está muito bem fundamentada.
      Já o seu protesto em defesa da fotógrafa (é voce mesma, não é?),
      não consegue acertar nem na concordância verbal.

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    2. Nao, nao sou anonima, nao sei quem eh essa pessoa. Meu nome eh Marta Azevedo, autora do trabalho Black Faces. Voce tem toda a liberdade de nao gostar do projeto, mas tirar palavras da minha boca, a maneira como dirigo as pessoas, nao acho profissional.

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    3. Então tá... retirei a brincadeira.

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