Enviada por: Irene Santos, fotógrafa
Foto de familia feita em estúdio nos anos 1930. Acervo José Domingos A da Silva |
Fotografia obtida na década de 1880 mostra negros escravizados resgatados pela marinha inglesa perto do litoral de Zanzibar |
Cartão de visita mostrando uma familia brasileira do século XIX com suas "negras de estimação" |
Os temas principais dos fotógrafos eram paisagens, registros de obras públicas e tipos humanos. Principalmente os exóticos como por exemplo os negros e os indígenas.
A moda
chegou até o Brasil, onde eram produzidas fotografias de negros, escravizados,
libertos ou nascidos livres para virarem cartões postais e cartões de visita.
Feitas sob
encomenda dos ricaços escravocratas os cartões postais eram uma forma de
alardear o poder econômico das familias.
Foto:Mulher com liteira e carregadores descalços - foto de autor desconhecido (¹)
As fotos de negros também
procuravam demonstrar ao resto do mundo o quanto era cordial a
escravidão brasileira e, após a abolição, a convivência de negros e brancos.
Para agradar a freguesia, os fotógrafos criavam em seus estúdios, cenas
dessa "amena convivência" ,das mães pretas com crianças
brincando montadas no seu lombo, ou alegres mucamas carregando produtos
para vender na rua , trabalhadores do campo em momentos de descanso...
Por mais
esforçados que fossem os fotógrafos no seu afã de passar a idéia da harmonia e
da passividade, não havia como disfarçar o desconforto e a humilhação dos
modelos negros, a escancarada falsidade das cenas.(²)
Mesmo após o término oficial do
tráfico, os negros continuaram a ser olhados como criaturas muito exóticas.
Na Europa suas fotografias eram usada para comprovar teses estapafúrdias da antropologia
social recém surgida misturando pseudo-ciência com espetáculo de circo.
Mulheres negras da
África do Sul, com suas nádegas proeminentes, eram exibidas como atrações no final
do século XIX. A mais famosa foi Saartje Baartman, a "Venus
Hotentote", exibida em Londres e París .
Foto: Louis Rousseau / Museo de Quai Branly
Até o
início do século 20 eram comuns exposições de tribos inteiras de africanos . Na
foto ao lado, mulheres da etnia Achanti, de Gana, em exibição no jardim
zoológico de L'Acclimation, París, em 1903.
Foto: Grupo de Pesquisas
Achac, Coleção Particular
Em Porto
Alegre, a fotografia chegou com o imigrante italiano Luiz Terragno em 1853 mais
dedicado às paisagens urbanas do que aos tipos populares. Nos anos seguintes
chegariam os Irmãos Ferrari , Virgilio Calegari, Colembush.
Herr
Colembush foi um negociante alemão bem sucedido que cultivava o hobby de
fotografar tipos populares que andavam nas ruas. São dele as fotos de velhos
negros libertos e abandonados à própria sorte.
O fotógrafo montou a cena na rua, utilizando balaios vazios e denunciando a exótica miséria dos recém libertos. Seu olhar europeu não demonstra a minima simpatia pelos modelos fotografados.
O fotógrafo montou a cena na rua, utilizando balaios vazios e denunciando a exótica miséria dos recém libertos. Seu olhar europeu não demonstra a minima simpatia pelos modelos fotografados.
"Há elementos que nos revelam o que herdaram da escravidão e a pobreza que ganharam com a liberdade: as roupas em desalinho, os adereços improvisados que os modelos levam na cabeça, que lembram os turbantes trazidos originalmente das tribos africanas, a fisionomia invariavelmente sombria devido à nostalgia do lugar de origem,o pedestal que remete ao tronco de madeira em que os escravos eram supliciados e o olhar enviesado do negro sentado à nossa direita que,entre todos do grupo, parece uma figura deslocada."
Virgilio
Calegari, outro italiano,era contemporâneo e mais que isso, concorrente dos
Irmãos Ferrari. Disputavam a
tapa a atenção da clientela de luxo, ávida pelos retratos de
estudio cuidadosamente produzidos. Damas da sociedade , políticos, gente rica
em geral, faziam fila para ter em seus álbuns de familias fotografias que se
tornavam também simbolo de status.
No que se
refere aos modelos negros, era o fotógrafo que ia atrás deles. Calegari, famoso
por sua idéias libertárias, lançava sobre os
exóticos ex-escravos
o mesmo olhar espantado de seus contemporâneos europeus. A foto ao lado, de
Germano Manoel da Motta, fazia parte de um ensaio fotográfico dedicado a tipos
populares da cidade. O nome do ensaio - Galeria
Grotesca - explicava bem o olhar de Calegari sobre os nativos
brasileiros.
A foto ao lado, de autor desconhecido da mesma forma mantém a idéia de exotismo
caricatural que só mudou quando nos anos 1930 os negros começaram a ir, por
iniciativa própria, aos estúdios fotográficos.
Saiba mais consultando:
(¹)No estudio do fotógrafo : representação e
auto-representação de negros livres, forros e escravos no Brasil da segunda
metade do seculo XIX - Sandra Sofia Machado Koutsoukos - Ed. Unicamp - São
Paulo - 2010
(³)O
cotidiano dos negros no exterior dos jornais de Porto Alegre,sinais de
fotojornalismo no século XIX - Beatriz Marocco, Universidade do Vale do Rio dos
Sinos
Sou de 1940 era uma época bem melhor,raros negros tinham maquinas fotografias,mas para uma boa foto íamos
ResponderExcluirdireto no fotógrafo.Tenho fotos de meus familiares já dos anos bem mais para atras com poses discretas e sempre com fotógrafos que tinham sensibilidade para com eles, deixando-os a vontade e com cenários muito bons.
Ao contrario da falta de respeito com os negros de outras épocas, pôs libertação como vi na reportagem.Pessoas assustadas e com poses como se fossem uns pobres coitados. Parabéns por esta bela informação! Abraço Neusa
Pois é, Neusa, o bom é que agora com a fotografia digital mais acessível
ResponderExcluircada familia vai fazendo seu próprio acervo com mais facilidade.
Em primeiro lugar que bom que temos este espaço!Estou adorando os temas,
e gosto de contribuir com meus singelos comentários. È verdade o que escrevestes acima que podemos ter nosso próprio acervo,seria bem interessante.Grande abraço.