Jayme Moreira da Silva, foi morador da Colônia Africana |
Jayme Moreira da Silva, 95 , lembra bem dos velhos tempos na Colônia Africana. Seu olhar se ilumina quando recorda :
"De setembro até a quaresma, tudo era festa na Colônia Africana..."
As festas iniciavam nos dias seis,
sete e oito de setembro. Todos os anos os bailes ocorriam no salão Modelo no centro da colônia (na esquina da Casemiro de Abreu com a rua Miguel Tostes, que naquele tempo era chamada
Rua da Esperança). O primeiro baile era da Sociedade 8 de Setembro no dia 6, véspera do feriado da Independência. Os bailes eram animados por conjuntos, orquestras e bandas e, bem organizados, iniciavam às 23h indo até de manhã.
Orquestra Tangarás em baile na Colônia Africana, ao tempo em que o cantor Onofre soltava a voz usando um megafone. Acervo Maria José M do Nascimento. |
Jazz Império se apresentando no salão Modelo. Acervo Helena Vieira. |
"Os comes e bebes eram servidos pela madrugada, após a escolha da Rainha da Sociedade 8 de Setembro do próximo ano. Bebidas e aperitivos vinham de Santo Antonio da Patrulha , as cervejas das cervejarias Sassem e Ritter, os doces da Confeitaria Rocco... uma delícia".(2)
Baile do Sorriso, na Colônia Africana. Acervo Cezar Dias |
"Nos anos 1930 e 40, faziam-se bailes que começavam no sábado, prolongavam-se no domingo e iam até segunda. Na segunda era a soirée, festa iniciando às 20h e finalizando à meia noite.
Também havia as matinês nas tardes de sábado.Vinham artistas do Brasil todo.
Horacina Correa vinha, veio Dalva (de Oliveira) e Herivelto (Martins), Grande Otelo. Esse adorava dançar e dançou com minha irmã. Ela bem alta, ele bem baixinho", conta dona Zélia Lima, 93."As festas na Colônia Africana eram assim: quando vinha um cantor de São Paulo, saia todo mundo pra rua. Levavam cadeiras para a rua, todo mundo se arrumava cedo para ir esperar o cantor chegar ao salão Modelo e "dar uma canja" na sacada do clube."
Nas tardes de domingo aconteciam os chás dançantes. Nestes, eram as mães que faziam e serviam o chá. Elas que tomavam conta da cozinha.
Alípio Dias arrendava o salão Modelo nos anos 1940. Seu filho Adair, 85, passou parte da adolescência ajudando o pai na produção das festas no salão:
"Organizava a lista e entregava os convites. Usava uma grade feita numa folha de caderno onde estavam nomes e endereços dos sócios. Depois eu e meus irmãos íamos entregar os convites."
Também havia as matinês nas tardes de sábado.Vinham artistas do Brasil todo.
Horacina Correa vinha, veio Dalva (de Oliveira) e Herivelto (Martins), Grande Otelo. Esse adorava dançar e dançou com minha irmã. Ela bem alta, ele bem baixinho", conta dona Zélia Lima, 93."As festas na Colônia Africana eram assim: quando vinha um cantor de São Paulo, saia todo mundo pra rua. Levavam cadeiras para a rua, todo mundo se arrumava cedo para ir esperar o cantor chegar ao salão Modelo e "dar uma canja" na sacada do clube."
Acervo Osvaldo Reis |
Havia muito capricho por parte dos jovens que frequentavam as festas e os bailes.Os trajes eram de gala, vestidos compridos ou quando era soirée , o baile começava às 8h e terminava à meia noite, aí o vestido era meia perna.
Nas tardes de domingo aconteciam os chás dançantes. Nestes, eram as mães que faziam e serviam o chá. Elas que tomavam conta da cozinha.
Alípio Dias arrendava o salão Modelo nos anos 1940. Seu filho Adair, 85, passou parte da adolescência ajudando o pai na produção das festas no salão:
"Organizava a lista e entregava os convites. Usava uma grade feita numa folha de caderno onde estavam nomes e endereços dos sócios. Depois eu e meus irmãos íamos entregar os convites."
Dona Zélia, já casada, acompanhava as meninas da sua família aos bailes. Acervo Zelia S Lima |
"As regras para os frequentadores dos bailes eram bem severas. Havia os fiscais de salão, pessoas que controlavam as boas maneiras dos participantes impedindo que "dançassem incorretamente".
Quando acontecia alguma coisa, o fiscal chamava o casal de lado e advertia: Olha, esta dança aí está feia". Quando estavam muito colados , diziam que estavam "maxixando" .Não podiam.
Nos bailes e festas só eram convidadas as moças das familias de associados e que não fossem brancas. Os homens tinham de ter a "ficha limpa", não só na polícia mas em tudo. " Porque um pode ter a ficha limpa na policia e suja lá não sei aonde". Dificilmente entravam pessoas brancas, dava até briga na porta", recorda Seu Adair
Nos bailes e festas só eram convidadas as moças das familias de associados e que não fossem brancas. Os homens tinham de ter a "ficha limpa", não só na polícia mas em tudo. " Porque um pode ter a ficha limpa na policia e suja lá não sei aonde". Dificilmente entravam pessoas brancas, dava até briga na porta", recorda Seu Adair
Antes que algum leitor desavisado estranhe o fato de as festas e bailes serem privativos dos negros da Colônia, classificando o fato como "racismo ao contrário", é bom lembrar que isto ocorria numa época em que o preconceito era praticamente uma ideologia que tornava a discriminação uma prática "natural" na sociedade porto-alegrense. Ou alguém imagina que negros seriam aceitos para participar de bailes em sociedades como G N UNIÃO, ou Petrópolis TC, ou Clube do Comércio ou até mesmo Clube Gondoleiros?
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1)Livro "Colonos e quilombolas, memória das colônias africanas de Porto Alegre" - Irene Santos,org -2010- edição independente.
2) Livro "Colônia Africana" de Jayme Moreira da Silva - 2005 - Edição independente.
toda movimentação das festas na colonia africana ,é um testemunho de bom gosto e educação q nós negros trouxemos atravez dos tempos ser negro vai alem da cor ,é uma postura de fé esperança de quem acredita nas belezas da vida ,traz no rosto alegria da festa que é viver
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