"Na questão sobre a ideologia da negritude, existe uma confusão grave: o
movimento não nega a cor branca nem qualquer outra, apenas afirma os direitos
da raça negra ainda esquecidos, mesmo num país mestiço, e reivindica a
igualdade para todas as raças. Meu trabalho expressa ou pretende expressar a
mim como um todo. Logo, estão incluídas nele todas as minhas descobertas,
dúvidas e preocupações – também o feminismo, a ecologia e a negritude. Estão,
incluídos com todas as coisas que me formaram até aqui, mas não estou interessada
em fazer panfleto de nada, não sou militante de nenhum movimento específico.
Pratico minhas idéias, não gosto de proselitismo. Me interessa sempre a
essência do humano, que não é divisível em credos, raças e ideologias. Ser uma
pessoa de cor negra não interfere em nada na minha pintura e não entendo a
sempre presente preocupação das pessoas com este aspecto. É minha vez de
perguntar: por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por que a
condição racial dos artistas de cor branca nunca é mencionada? Por que sempre
me perguntam como é ser negra e ser artista? Ora, é igual ao ser de qualquer
outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos
descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo mundo. A
diferença quem faz é a mídia. É “normal” ser branco, e, portanto, é natural que
o branco faça tudo, mas, quando se trata de um negro, age como se fosse algo
fantástico, um fenômeno — o macaco que pinta! Não gosto disto..." (trecho de entrevista de Maria Lidia Magliani no boletim informativo do MARGS, nº 32 de janeiro de 1987)
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