Lei Áurea - 1888- Miguel Cañizares |
Imagine um estudante do ensino fundamental que vá pesquisar na internet imagens relativas à abolição da escravatura no Brasil. Quando digitar num mecanismo de busca as palavras-chave abolição e escravatura, surgirá uma página com centenas de imagens, as mais diversas e supostamente relativas ao tema. Terá de tudo.
- O quadro do pintor espanhol Cañizares que se mudou para o Brasil em 1887 e que retratou a princesa Isabel como autêntica santinha , com direito a uma entourage de anjos , aristocratas e cabeças coroadas .
A princesa leva o documento da lei Áurea na mão esquerda e com a direita segura uma cruz com as inscrições: Redenção, Deus, Caridade.
Três níveis abaixo da princesa estão representados os principais interessados na lei: duas mulheres e uma criança, negras , uma mulher branca (?) ajoelhadas e levantando os braços em adoração à redentora que as ignora solenemente. Mesmo sendo as únicas personagens falantes e em movimento na cena , são também ignoradas pelos outros componentes do quadro. Não há dúvida que o pintor espanhol com um ano de Brasil já conseguira captar o espírito da abolição.
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Três níveis abaixo da princesa estão representados os principais interessados na lei: duas mulheres e uma criança, negras , uma mulher branca (?) ajoelhadas e levantando os braços em adoração à redentora que as ignora solenemente. Mesmo sendo as únicas personagens falantes e em movimento na cena , são também ignoradas pelos outros componentes do quadro. Não há dúvida que o pintor espanhol com um ano de Brasil já conseguira captar o espírito da abolição.
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No rótulo ao lado, um clássico da hipocrisia racial brasileira, onde um negro recém liberto festeja com um bandeirante(!) a promulgação da lei Áurea. Não traz correntes mas sua condição de escravizado é evidenciada pelos pés descalços.
Era moda, no século XIX, o uso de rótulos impressos em litografia usados para marcar embalagens de produtos e, ao mesmo tempo, divulgar idéias elevadas.
De todas, a ilustração mais fantasiosa é a que parece uma festa no canavial onde, no primeiro plano, um negro em andrajos festeja a chegada da notícia(!!!). No segundo plano um grupo agitado. Não se consegue saber se estão festejando ou se a agitação é causada pela chegada de um provável capataz (à esquerda) empunhando um chicote.
São centenas de imagens que os buscadores de internet fornecem instantaneamente a partir de palavras-chaves como escravidão, abolição, Brasil. Todas procuram passar a idéia que a lei da abolição representou a "liberdade outorgada" aos pretos unicamente pela benevolência caridosa do governo. Todas omitem a participação dos negros nas lutas abolicionistas reforçando o estereótipo do escravo conformado com o cativeiro.
No que diz respeito a Porto Alegre, a professora Maria Angélica Zubaran em artigo publicado na revista Fênix, demonstra que:
" a narrativa dominante sobre a abolição em Porto Alegre ocultou a participação de abolicionistas afrodescendentes e de sociedades negras e produziu uma invenção branca da liberdade negra." (1)O que vale para os textos, vale para as imagens. Se seguirmos os links das imagens saberemos que foram publicadas em sites voltados para estudantes de primeiro e segundo graus, fornecendo subsídios para suas pesquisas sobre o 13 de maio!!!
É de arrepiar!
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