segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os Cantos das Sereias




Enviada por:Osvaldo F Reis, advogado, pesquisador

Os versos de Lupicínio Rodrigues: “a vergonha / foi a maior herança / que meu pai me deixou” relembra um tempo em que a educação, os valores éticos, o culto aos orixás, a paixão por uma escola de samba ou por um time da várzea, eram os únicos patrimônios que as famílias negras tinham para deixar aos seus descendentes, uma vez que o produto do seu trabalho, na maior parte das vezes, não gerava patrimônio material (bens passiveis de divisão) para serem herdados.
Hoje os tempos mudaram. O que antes não era muito valorizado pelas fontes oficiais - e pela Academia (que forma professores, pesquisadores, historiadores ) passou a ser importante. Passou a ser atribuído um valor histórico, sociológico, antropológico e econômico ao chamado patrimônio imaterial das famílias neg ras.
Explicando o econômico:
Surgiu uma necessidade de se entender o Brasil que não está na História Oficial. Surgem constantemente incentivos financeiros: públicos e privados, para pesquisas nas universidades do país na busca de descobrir - achar ou passar a conhecer algo desconhecido – a história de nossas famílias, fatos e atividades que existem, se repetem até hoje, ou que já desapareceram ou que, ainda, resistem modificadas, adaptadas as novas formas de mercado. Velhos assuntos estão sendo pesquisados o que vem gerando uma boa fonte de renda para alguns.
Neste universo do Mercado e do Capital, ainda existem pesquisadores muito bem intencionados que estão fazendo um trabalho que orgulharia os nossos antepassados. Mas, como em tudo na vida, existem aqueles “estudiosos” que gostam de tratar suas fontes primárias ainda como semoventes (termo jurídico que designa seres que andam ou se movem por si, como o gado, p.ex.).
Parecem pensar que tudo o que fazem é para o nosso bem, mesmo quando estão utilizando o nosso patrimônio material (fotos, documentos, relíquias pessoais) ou o nossa maior herança, que é a nossa a memória, todo o nosso patrimônio imaterial, para fazerem apenas um trabalhozinho de valorização da nossa historiazinha. Que na maior parte das vezes nem valoriza nada.
Então,vamos ter cuidado com os cantos das sereias!
Quando cedermos nossas fotos, nossos documentos, nossas relíquias, vamos prestar atenção nas intenções e objetivos do “amigo” que se diz preocupado com  a história dos nossos antepassados.
Fotos, documentos, relíquias, objetos de uso pessoal etc, são bens móveis, que em um inventário (processo judicial) talvez não tenham grande valor.  Mas com certeza mantém a memória do nosso povo e a “herança maior”: o orgulho de sermos seus descendentes.

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