Enviada por:Osvaldo F Reis, advogado, pesquisador
Os versos de Lupicínio
Rodrigues: “a vergonha / foi a maior herança / que meu pai me deixou” relembra
um tempo em que a educação, os valores éticos, o culto aos orixás, a paixão por
uma escola de samba ou por um time da várzea, eram os únicos patrimônios que as
famílias negras tinham para deixar aos seus descendentes, uma vez que o produto
do seu trabalho, na maior parte das vezes, não gerava patrimônio material (bens
passiveis de divisão) para serem herdados.
Hoje os tempos mudaram. O que
antes não era muito valorizado pelas fontes oficiais - e pela Academia (que
forma professores, pesquisadores, historiadores ) passou a ser importante. Passou
a ser atribuído um valor histórico, sociológico, antropológico e econômico ao chamado patrimônio
imaterial das famílias neg ras.
Explicando
o econômico:
Surgiu uma
necessidade de se entender o Brasil que não está na História Oficial. Surgem
constantemente incentivos financeiros: públicos e privados, para pesquisas nas
universidades do país na busca de descobrir - achar ou passar a conhecer algo
desconhecido – a história de nossas famílias, fatos e atividades que existem,
se repetem até hoje, ou que já desapareceram ou que, ainda, resistem modificadas,
adaptadas as novas formas de mercado. Velhos assuntos estão sendo pesquisados o
que vem gerando uma boa fonte de renda para alguns.
Neste
universo do Mercado e do Capital, ainda existem pesquisadores muito bem
intencionados que estão fazendo um trabalho que orgulharia os nossos
antepassados. Mas, como em tudo na vida, existem aqueles “estudiosos” que
gostam de tratar suas fontes primárias ainda como semoventes (termo jurídico que designa seres que
andam ou se movem por si, como o gado, p.ex.).
Parecem pensar
que tudo o que fazem é para o nosso
bem, mesmo quando estão utilizando o nosso patrimônio material (fotos,
documentos, relíquias pessoais) ou o nossa maior herança, que é a nossa a
memória, todo o nosso patrimônio imaterial, para fazerem apenas um trabalhozinho de valorização da nossa
historiazinha. Que na maior parte das
vezes nem valoriza nada.
Então,vamos ter cuidado com os
cantos das sereias!
Quando cedermos nossas fotos, nossos documentos, nossas relíquias, vamos prestar atenção nas intenções e objetivos do “amigo” que se diz preocupado com a história dos nossos antepassados.
Quando cedermos nossas fotos, nossos documentos, nossas relíquias, vamos prestar atenção nas intenções e objetivos do “amigo” que se diz preocupado com a história dos nossos antepassados.
Fotos, documentos, relíquias, objetos
de uso pessoal etc, são bens móveis, que em um inventário (processo judicial)
talvez não tenham grande valor. Mas com
certeza mantém a memória do nosso povo e a “herança maior”: o orgulho de sermos
seus descendentes.
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