Xavantes em 1953 |
No tempo em que existia carnaval de rua em Porto Alegre, um dos pontos altos dos desfiles era a apresentação das Tribos Carnavalescas. Segundo Heitor Carlos S B Garcia, em seu livro Fragmentos Histórios do Carnaval , as tribos surgiram por volta de 1945 e tiveram seu apogeu nos anos 1960 quando a beleza de suas fantasias e apresentações atraiam muitos turistas à cidade.
Hemetério
de Barros em seu livro Memórias de um Carnavalesco, relembrou o que aconteceu em uma
participação dos Xavantes no carnaval de 1953
"...Enquanto
isso, nós os Xavantinos, que já tínhamos mais de três meses de ensaios,
estávamos tinindo para a nossa primeira apresentação.
No nosso tema, tínhamos
uma linda moça, parente do valoroso Cacique
Aguia Branca, o Julio Garcia,
o "Niquelate". Essa
índia tinha um papel chave no tema.
Chegou
o grande e esperado momento
da apresentação
perante a torcida e a comissão julgadora. Tudo estava em ordem, os guerreiros todos preparados
para a decisão final. Estávamos
seguros de que não perderíamos o campeonato.
O
coreto oficial
estava localizado na Praça da Alfândega, esquina com o
Largo dos Medeiros
(atual rua General Câmara), mas antes, nos dirigimos ao carnaval da rua Demétrio
Ribeiro, onde faríamos a primeira apresentação
pública do nosso tema.
Quando assim procediamos, a nossa índia, que tinha um papel chave, com um diálogo importante com o Pajé, emudeceu completamente, num nervosismo por nós nunca visto e que nem podíamos esperar, tendo em vista que tudo estava certo nos ensaios. Procuramos acalmá-Ia mas sentimos a impossibilidade da apresentação, tal o nervosismo da menina.
Quando assim procediamos, a nossa índia, que tinha um papel chave, com um diálogo importante com o Pajé, emudeceu completamente, num nervosismo por nós nunca visto e que nem podíamos esperar, tendo em vista que tudo estava certo nos ensaios. Procuramos acalmá-Ia mas sentimos a impossibilidade da apresentação, tal o nervosismo da menina.
O acontecimento nos perturbou muito, mas não perdi
a calma, procurando algo para substituir
essa apresentação. Quando
caminhávamos
para o coreto oficial, fiquei observando
uma dupla inédita, que vinha dando
um show à parte dentro da Tribo; era o índio
Camburupi
- o Paulo Fontes -
e um índio fàntasiado de gorila
que, amarrado pela cintura, obedecia o
Carnburupí, o seu domador,
que o ameaçava com uma machadinha.
Sentimos
nessa dupla, tão bem caracterizada, a solução do imprevisto problema que se criou. Chamei os
dois à parte e combinei o que deveríamos fazer,
mesmo sem ensaio.
Durante a apresentação, o guerreiro domador fazia o gorila dançar
sob a ameaça da machadinha mas, de repente,
por um descuido, levou
uma chapoletada na cabeça,
do gorila
enfurecido. O índio domador caiu de todo o comprimento desmaiado. Logo, quatro guerreiros da
guarda do Pajé, armados de lanças procuraram conter a fúria do
gorila, mas o fizeram
tão desastrosamente, que feriram de verdade o rapaz fantasiado de gorila, no
peito, ficando o mesmo tão enfurecido, que
começou a distribuir socos e ponta-pés. A cena
ficou por demais autêntica e
mereceu aplausos vibrantes da Comissão
Julgadora e da grande torcida dos Xavantes. O Pajé,
com suas feitiçarias, recobrou os sentidos do domador desfalecido.
A nossa apresentação foi perfeita."
As Tribos Indígenas apresentavam um verdadeiro teatro em frente ao Coreto Oficial: uma encenação que narrava o enredo e uma trilha sonora executada por vilões- setes-cordas, agês, atabaques, etc, fazendo uma harmonia musical, que deixou saudade.
ResponderExcluirO carnaval Porto-alegrense viveu anos de glória com as Tribos: Caetés, Xavantes, Bororós, Tapajós, Iracemas, Navajos e outras.
Tudo isso era reprisado nos coretos espalhados pelos territórios negros que existiam na época.
O carnaval ia até onde o povo estava.