segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Velhos Carnavais: Solução de última hora

 

Xavantes em 1953
 No tempo em que  existia carnaval de rua em Porto Alegre, um dos pontos altos dos desfiles era a apresentação das Tribos Carnavalescas. Segundo Heitor Carlos S B Garcia, em seu livro Fragmentos Histórios do Carnaval , as tribos surgiram por volta de 1945 e tiveram seu apogeu nos anos 1960 quando a beleza de suas fantasias e apresentações atraiam muitos turistas à cidade.

Hemetério de Barros em seu livro Memórias de um Carnavalesco, relembrou o que aconteceu  em uma participação dos Xavantes  no carnaval de 1953

"...Enquanto isso, nós os Xavantinos, que já tínhamos mais de três meses de ensaios, estávamos tinindo para a nossa primeira apresentação. No nosso tema, tínhamos uma linda moça, parente do valoroso Cacique Aguia Branca, o Julio Garcia, o "Niquelate". Essa índia tinha um papel chave no tema.

 
Chegou o grande e esperado momento da apresentação perante a torcida e a comissão julgadora. Tudo estava em ordem, os guerreiros todos preparados para a decisão final. Estávamos seguros de que não perderíamos o campeonato.

O coreto oficial estava localizado na Praça da Alfândega, esquina com o Largo dos Medeiros (atual rua General Câmara), mas antes, nos dirigimos ao carnaval da rua Demétrio Ribeiro, onde faríamos a primeira apresentação pública do nosso tema.

Quando assim procediamos, a nossa índia, que tinha um papel chave, com um diálogo importante com o Pajé, emudeceu completamente, num nervosismo por nós nunca visto
e que nem podíamos esperar, tendo em vista que tudo estava certo nos ensaios. Procuramos acalmá-Ia mas sentimos a impossibilidade da apresentação, tal o nervosismo da menina.

 O acontecimento nos perturbou muito, mas não perdi a calma, procurando algo para substituir essa apresentação. Quando caminhávamos para o coreto oficial, fiquei observando uma dupla inédita, que vinha dando um show à parte dentro da Tribo; era o índio Camburupi - o Paulo Fontes - e um índio fàntasiado de gorila que, amarrado pela cintura, obedecia o Carnburupí, o seu domador, que o ameaçava com uma machadinha.

 Sentimos nessa dupla, tão bem caracterizada, a solução do imprevisto problema que se criou. Chamei os dois à parte e combinei o que deveríamos fazer, mesmo sem ensaio.

Durante a apresentação, o guerreiro domador fazia o gorila dançar sob a ameaça da machadinha mas, de repente, por um descuido, levou uma chapoletada na cabeça, do gorila enfurecido. O índio domador caiu de todo o comprimento desmaiado. Logo, quatro guerreiros da guarda do Pajé, armados de lanças procuraram conter a fúria do gorila, mas o fizeram tão desastrosamente, que feriram de verdade o rapaz fantasiado de gorila, no peito, ficando o mesmo tão enfurecido, que começou a distribuir socos e ponta-pés. A cena ficou por demais autêntica e mereceu aplausos vibrantes da Comissão Julgadora e da grande torcida dos Xavantes. O Pajé, com suas feitiçarias, recobrou os sentidos do domador desfalecido.
A nossa apresentação foi perfeita."

Um comentário:

  1. As Tribos Indígenas apresentavam um verdadeiro teatro em frente ao Coreto Oficial: uma encenação que narrava o enredo e uma trilha sonora executada por vilões- setes-cordas, agês, atabaques, etc, fazendo uma harmonia musical, que deixou saudade.
    O carnaval Porto-alegrense viveu anos de glória com as Tribos: Caetés, Xavantes, Bororós, Tapajós, Iracemas, Navajos e outras.
    Tudo isso era reprisado nos coretos espalhados pelos territórios negros que existiam na época.
    O carnaval ia até onde o povo estava.

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