com a colaboração de Osvaldo Ferreira dos Reis
Na figura elegante, no olhar brilhante, ele transmite com autoridade de griot seu conhecimento sobre as nossas memórias coletivas. As lembranças de infância de sua filha Ana Lúcia desvendam as origens de sua serena militância:
"As relações de amizade com outros negros eram com pessoas da nossa familia e no Satélite Prontidão, por isso a importância de se sentir igual. Era também lá que eu me sentia mais acolhida, era ali que nossas mães se reuniam para preparar "quitutes" que aprenderam com suas mães, fazeres e conhecimentos que perpassam de geração em geração; histórias, músicas, literatura, artes, tudo era rico e valorizado. Esta tradição de perpetuar histórias através da oralidade era uma das maneiras mais simples de se transmitir o conhecimento que se possuía. Histórias que passavam por várias gerações e faziam parte da construção da identidade daqueles grupos de mulheres que frequentavam o lugar. Mães, avós, filhas, amigas se juntavam para dialogar e trocar experiências ; isto porque histórias orais valorizam as memórias e recordações dos indivíduos." (1)Como bom griot que é, apropria-se com facilidade de memórias anteriores a ele mesmo e contando-as de forma bem humorada consegue nos fazer imaginar as cenas mais antigas, como quando conta a origem da Sociedade Prontidão:
Em uma noite de carnaval, quatro ou cinco jovens resolveram fazer uma fantasia e foram em um baile do Satélite na Cidade Baixa. Nem todos tinham dinheiro para pagar o ingresso. Então resolveram fazer uma fila indiana e romperam o salão gritando: “Pron-pron-prontidão! Pron-pron-prontidão!” Há quem pense que era prontidão de alerta, mas na época a gíria para ‘pobre’ era ‘pronto’. Quando alguém não tinha dinheiro dizíamos: “fulano está pronto”.Essa idéia acabou criando corpo, muitas famílias gostaram do gesto dos rapazes. Eles ganharam a festa! E resolveram criar outra sociedade chamada Sociedade Carnavalesca Prontidão, em 1º de março de 1925. Em 1956 essas duas sociedades resolveram se unir.(2)
Assim é Nilo Feijó, presidente da centenária Associação Satélite-Prontidão, carnavalesco, compositor de marchas e sambas-de-enredo, sambas de exaltação e músicas românticas.
Sua poesia já deve ter reacendido muitos amores desfeitos:
Magoei, magoei você/Você partiu, chorando/Sem me reclamarAgora quem chora sou eu/Esperando prá você voltar
Quem te chama sou eu, amor/Sou eu, que estava cego/E não vi seu valor/Aquele que a saudade/Com sua dor feriuE hoje sofre, o que você/Sofreu quando partiu.
Se ela voltou não se sabe.Mas sempre que o puxador da escola de samba executa esta música o povo canta junto.
"Essa maravilha/ É de tirar o chapéu/ Festa igual ao meu carnaval/Só uma festa no céu"
Seus versos se tornaram clássicos e defendem a difícil permanência do carnaval em Porto Alegre.
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Hoje, 24 de junho, o SOPAPO POÉTICO – Ponto Negro da Poesia na sua quarta edição de 2013 , recebe Nilo Feijó e seu irmão Guaraci Feijó, expoentes da cultura negra local, cujas trajetórias confundem-se com a história do Carnaval porto-alegrense.
NÃO DÁ PRÁ PERDER!
SOPAPO POÉTICO – edição de junho/2013
Convidados: Nilo Feijó e Guaraci Feijó
Quando: terça-feira (25/06), às 19h30min
Onde: AECPARS - Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do RS, Av. Ipiranga, 311, Bairro Menino Deus
Entrada franca
Onde: AECPARS - Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do RS, Av. Ipiranga, 311, Bairro Menino Deus
Entrada franca
1) Os 110 anos da Associação Satélite Prontidão em uma viagem através da fotografia/ Ana Lúcia Felippe Feijó /Trabalho de conclusão de curso de Pedagogia da Arte/ UFRGS - 2013
2)Entrevista para Isadora Pisoni em 2010
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