Intervenção sobre arte de Kdoo Guerreiro para o dia 21 |
No dia 20 de novembro de 2012, o Ministério da Cultura publicou editais destinados a produtores e artistas negros. A ministra Marta Suplicy, com estes editais, procurou tirar o MinC de cima do muro, adotando uma atitude pró ativa em favor de 52% da população do país.
A ministra reconheceu que, se o governo não subsidiar os projetos culturais de negros e sobre negros, ninguém mais vai fazê-lo já que a iniciativa privada ignora-os solenemente . O ineditismo dos editais causou frisson e estranheza desde o dia do seu lançamento solene no Museu Afro Brasil de Emanoel Araújo.
Os artistas e produtores culturais negros ficaram eufóricos como se suas demandas seculares estivessem começando a ser atendidas.
Mas não é bem assim.
Calcada no onipresente racismo cordial a classe dominante do Brasil costuma aplicar filtros severos quando se trata de juntar as palavras negros + cultura.
Basta lembrar a gafe monumental que foi cometida pela Caixa Econômica Federal em 2011, em propaganda que ao "homenagear" Machado de Assis trandformou-o num verdadeiro wasp caboclo (1).
Claro que não vai faltar uma alma quatrocentona, estranhando tanto tititi, que declare ao olhar a fotografia do mulato Machado: Mas ele nem negro era! (porque em sendo bom, negro não pode ser, não é não?)
Mas não é bem assim.
Calcada no onipresente racismo cordial a classe dominante do Brasil costuma aplicar filtros severos quando se trata de juntar as palavras negros + cultura.
Basta lembrar a gafe monumental que foi cometida pela Caixa Econômica Federal em 2011, em propaganda que ao "homenagear" Machado de Assis trandformou-o num verdadeiro wasp caboclo (1).
Claro que não vai faltar uma alma quatrocentona, estranhando tanto tititi, que declare ao olhar a fotografia do mulato Machado: Mas ele nem negro era! (porque em sendo bom, negro não pode ser, não é não?)
As formas de elogiar ou homenagear os pretos e pretas costumam indicar onde as pessoas guardam seus preconceitos.
Exemplificando: na noite do dia 13 de maio último, na Bandnews, Salomão Schvartzman , jornalista conceituado, conselheiro do MASP, bacharel em Ciências Políticas e Sociais resolveu fazer uma homenagem à abolição e encerrou seu programa diário declamando, pasmem, Essa Nêgra Fulô de Jorge de Lima (2).
E como era uma homenagem e ele (Salomão) é um bom declamador, enfeitava cada palavra com entonações de malícia e luxúria.
Só faltou entoar Lamartine Babo: O teu cabelo não nega, mulata / Porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega, mulata / Mulata eu quero o teu amor /
Os equívocos se sucedem porque os projetos culturais referentes aos negros brasileiros são desenvolvidos por "gente de fora do cercado." Os padrões estéticos são os de um mundo falsamente europeizado, branco, com um olhar colonizado e um espírito de rapinante, que se apropria e desvirtua traços culturais que herdamos dos nossos ancestrais africanos. São infindáveis as ferramentas de desconstrução cultural que a sociedade dominante tem à sua disposição, subsidiadas pelo dinheiro público.
2014 será ano de eleições e 2013 é ano de promessas.
Exemplificando: na noite do dia 13 de maio último, na Bandnews, Salomão Schvartzman , jornalista conceituado, conselheiro do MASP, bacharel em Ciências Políticas e Sociais resolveu fazer uma homenagem à abolição e encerrou seu programa diário declamando, pasmem, Essa Nêgra Fulô de Jorge de Lima (2).
E como era uma homenagem e ele (Salomão) é um bom declamador, enfeitava cada palavra com entonações de malícia e luxúria.
Só faltou entoar Lamartine Babo: O teu cabelo não nega, mulata / Porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega, mulata / Mulata eu quero o teu amor /
Os equívocos se sucedem porque os projetos culturais referentes aos negros brasileiros são desenvolvidos por "gente de fora do cercado." Os padrões estéticos são os de um mundo falsamente europeizado, branco, com um olhar colonizado e um espírito de rapinante, que se apropria e desvirtua traços culturais que herdamos dos nossos ancestrais africanos. São infindáveis as ferramentas de desconstrução cultural que a sociedade dominante tem à sua disposição, subsidiadas pelo dinheiro público.
Por isso, faz sentido a explicação da ministra ao divulgar os editais de 20 de novembro:
"É para negros serem prestigiados na criação, e não apenas na temática. É para premiar o criador negro, seja como ator, seja como diretor ou como dançarino. Não é racismo."
Mas, neste país de inconsequências, logo veio a bomba : um juiz do Maranhão conseguiu suspender o curso dos editais, parar tudo e instalar a confusão. Ao saber da novidade, a ministra Marta Suplicy se mostrou chocada e disparou a frase mágica que a colocou no centro das atenções: Isso é Racismo!
Ah, ministra, com todo o respeito, a causa da suspensão dos editais não foi o só o racismo do juiz mas, principalmente, a incompetência dos burocratas de plantão do seu ministério que elaboraram os editais com erros jurídicos, constitucionais e até gramaticais.
Ah, ministra, com todo o respeito, a causa da suspensão dos editais não foi o só o racismo do juiz mas, principalmente, a incompetência dos burocratas de plantão do seu ministério que elaboraram os editais com erros jurídicos, constitucionais e até gramaticais.
"O deslize jurídico constitucional dos setores do MinC que elaboraram os editais de cultura foi evidente. Óbvio que, nos termos em que foram implementados, a possibilidade de haver questionamento legal seria previsível.(3)"
Perguntas que não querem calar :
Dá para acreditar em distração dos redatores de editais do Minc, cochilo inocente ? Será mesmo que não conseguiram prever a impugnação? Foi só incompetência? Ou tem mais alguma coisa envolvida?
Dá para acreditar em distração dos redatores de editais do Minc, cochilo inocente ? Será mesmo que não conseguiram prever a impugnação? Foi só incompetência? Ou tem mais alguma coisa envolvida?
E se os editais forem mesmo suspensos, para onde será direcionada a verba de 10 milhões de reais que o Minc já tinha separado para a cultura negra?
2014 será ano de eleições e 2013 é ano de promessas.
Hum... há um cheiro de cenoura no ar...
Aqui em Porto Alegre, para sexta feira dia 21 de junho, está previsto um ato público pela liberação dos editais de cultura negra do MinC. Se o sub-texto das grandes manifestações cívicas dos últimos dias tem sido "não é só pelos 20 centavos" nesta nossa poderia ser:
"DONA MARTA, NINGUÉM É BOBO AQUI!"
--------------------------------------------------------------------"DONA MARTA, NINGUÉM É BOBO AQUI!"
1) WASP é o acrônimo que em inglês significa White, Anglo-Saxon and Protestant (Branco, Anglo-Saxão e Protestante).Com frequência usada em sentido pejorativo, presta-se a designar um grupo relativamente homogêneo de indivíduos estadunidenses de religião protestante e ascendência britânica que supostamente detêm enorme poder econômico, político e social. (Wikipedia)
2) - Essa Nêgra Fulô de Jorge de Lima e a Outra Nêga de Oliveira Silveira
3) - Preto por Branco até pode, Preto por Preto, não -Blog Spirito Santo
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